A Conta Desigual
Porque é que em Portugal o trabalho de uma mulher ainda vale menos?
Não é "apenas" uma questão de "trabalho igual, salário igual".
Em Portugal, uma mulher precisa de trabalhar, em média, mais 51 dias* por ano para ganhar o mesmo que um homem.
Esta não é uma opinião, é a medida de uma desigualdade profunda e persistente que muitas vezes se esconde à vista de todos.
É fundamental distinguir dois conceitos. A "igualdade salarial para trabalho igual ou de valor igual" é um princípio legal e obrigatório. Pagar salários diferentes a um homem e a uma mulher que desempenham a mesma função é ilegal. O que este tema analisa é um fenómeno mais vasto e complexo: o Gender Pay Gap (a disparidade salarial de género).
Este indicador não compara dois salários específicos, mas sim a média do ganho bruto por hora de todos os homens e de todas as mulheres no mercado de trabalho. O resultado, persistentemente negativo para as mulheres, revela uma realidade incómoda: a nossa economia, as nossas empresas e a nossa cultura, no seu conjunto, valorizam menos o trabalho feminino.
É o sintoma de um problema sistémico, alimentado por um conjunto de fatores que vamos desmontar e expor nesta investigação.
*Cálculo baseado na disparidade salarial de 12,5% (Fonte: GEP, dados de 2023).
O Raio-X da Desigualdade em Portugal
A Pena da Maternidade
A disparidade salarial de uma mãe pode ser mais do dobro da de uma mulher sem filhos. A carreira feminina é penalizada, um impacto que não se verifica na masculina.
O Abismo nas Pensões
Anos de salários desiguais culminam numa reforma mais pobre. Em média, a pensão de uma mulher é 26% inferior, comprometendo a sua segurança na velhice.
O Teto de Vidro
Apesar de mais qualificadas, as mulheres ocupam menos de 30% dos cargos de liderança de topo. Uma barreira invisível continua a travar a sua ascensão profissional.
Porque é que isto acontece?
As causas que não se veem.

O Trabalho Invisível e a Dupla Jornada
As horas gastas em tarefas domésticas e no cuidado dos filhos não são pagas, mas custam caro à carreira das mulheres.

Profissões "de Mulher", Salários "de Segunda"
Porque é que os setores onde as mulheres dominam, como a educação e a saúde, são financeiramente menos valorizados?

A Penalização da Maternidade
A chegada de um filho trava a carreira da mãe e, por vezes, acelera a do pai. Analisamos o fenómeno.

Preconceito e Negociação Salarial
"Assertivo" ou "agressiva"? O tabu de falar sobre dinheiro e os preconceitos na avaliação prejudicam as mulheres.
A Lei Existe. Mas está a funcionar?
Portugal tem, desde 2018, uma lei (Lei n.º 60/2018) que visa garantir a igualdade salarial, obrigando as grandes empresas a reportar as suas disparidades. A "Lei das Quotas" de 2017 também procura aumentar a representação feminina na liderança. No entanto, o avanço é lento e a fiscalização parece insuficiente.
"Uma lei sem fiscalização é apenas uma sugestão."
Seja uma Voz Ativa:
A mudança começa em cada um de nós.
Cidadãos
Fale sobre dinheiro e conheça os seus direitos.
O secretismo salarial perpetua a desigualdade.
Falar abertamente com colegas de confiança pode expor discrepâncias injustificadas. Informe-se sobre a legislação em vigor e, em caso de suspeita de discriminação, apresente queixa na CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego) e na ACT (Autoridade para as Condições do Trabalho).
Empresas
Promova uma cultura de transparência e equidade.
Realize auditorias salariais de género regulares e independentes para identificar e corrigir disparidades. Defina critérios de progressão e bandas salariais claras e públicas. Crie programas de mentoria para mulheres e invista em formação sobre preconceitos inconscientes para todas as chefias. Ofereça modelos de trabalho flexíveis que beneficiem todos, não apenas as mulheres.
Governo
Crie as condições para uma igualdade real.
Reforce a capacidade de fiscalização da ACT e da CITE para garantir o cumprimento da lei. Invista massivamente numa rede de creches públicas, gratuitas e de qualidade, um pilar essencial para a conciliação. Promova ativamente a partilha das licenças parentais e crie políticas de valorização das profissões de cuidado, essenciais para a sociedade e maioritariamente desempenhadas por mulheres.